sábado, 14 de agosto de 2010

O Positivismo


Positivismo

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Positivismo é um conceito utópico que possui distintos significados, englobando tanto perspectivas filosóficas e científicas do século XIX quanto outras do século XX. Desde o seu início, com Augusto Comte (1798-1857) na primeira metade do século XIX, até o presente século XXI, o sentido da palavra mudou radicalmente, incorporando diferentes sentidos, muitos deles opostos ou contraditórios entre si. Nesse sentido, há correntes de outras
disciplinas que se consideram "positivistas" sem guardar nenhuma relação com a obra de Comte. Exemplos paradigmáticos disso são o Positivismo Jurídico, do austríaco Hans Kelsen, e o Positivismo Lógico (ouCírculo de Viena), de Rudolph Carnap, Otto Neurath e seus associados.
Para Comte, o Positivismo é uma doutrina filosóficasociológica e política. Surgiu como desenvolvimento sociológico do Iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial - processos que tiveram como grande marco a Revolução Francesa (1789-1799). Em linhas gerais, ele propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando radicalmente a teologia e ametafísica (embora incorporando-as em uma filosofia da história). Assim, o Positivismo associa uma interpretação das ciências e uma classificação do conhecimento a uma ética humana radical, desenvolvida na segunda fase da carreira de Comte.


Índice

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[editar] Método do Positivismo de Augusto Comte

O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, através da promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência, sem qualquer atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação à observação , tomando como base apenas o mundo físico ou material. O Positivismo nega à ciência qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenômenos naturais e sociais, considerando este tipo de pesquisa inútil e inacessível, voltando-se para a descoberta e o estudo das leis (relações constantes entre os fenômenos observáveis). Em sua obra Apelo aos conservadores (1855), Comte definiu a palavra "positivo" com sete acepções: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático.
O Positivismo defende a idéia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. Assim sendo, desconsideram-se todas as outras formas do conhecimento humano que não possam ser comprovadas cientificamente. Tudo aquilo que não puder ser provado pela ciência é considerado como pertencente ao domínio teológico-metafísico caracterizado por crendices e vãs superstições. Para os Positivistas o progresso da humanidade depende única e exclusivamente dos avanços científicos, único meio capaz de transformar a sociedade e o planeta Terra no paraíso que as gerações anteriores colocavam no mundo além-tumulo.
O Positivismo é uma reação radical ao Transcendentalismo idealista alemão e ao Romantismo, no qual os afetos das individuais e coletivos e a subjetividade são completamente ignoradas, limitando a experiência humana ao mundo sensível e ao conhecimento aos fatos observáveis. Substitui-se a Teologia e a Metafísica pelo Culto à Ciência, o Mundo Espiritual pelo Mundo Humano, o Espírito pela Matéria.
A idéia-chave do Positivismo Comtiano é a Lei dos Três Estados, de acordo com a qual o homem passou e passa por três estágios em suas concepções, isto é, na forma de conceber as suas idéias e a realidade:
  • Teológico: o ser humano explica a realidade apelando para entidades supranaturais (os "deuses"), buscando responder a questões como "de onde viemos" e "para onde vamos"; além disso, busca-se o absoluto;
  • Metafísico: é uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade. No lugar dos deuses há entidades abstratas para explicar a realidade: "o Éter", "o Povo" , " o Mercado financeiro" etc. Continua-se a procurar responder a questões como "de onde viemos" e "para onde vamos" e procurando o absoluto;
  • Positivo: etapa final e definitiva, não se busca mais o "porquê" das coisas, mas sim o "como", através da descoberta e do estudo das leis naturais, ou seja, relações constantes de sucessão ou de coexistência. A imaginação subordina-se à observação e busca-se apenas pelo observável e concreto.

[editar] Espírito positivo

Na obra "Discurso sobre o espírito positivo" (1848), Comte explicitou que o espírito positivo é maior e mais importante que a mera cientificidade, na medida em que esta abrange apenas questões intelectuais e aquele compreende, além da inteligência, também os sentimentos (ou, em termos contemporâneos, a subjetividade em sentido amplo) e as ações práticas.

[editar] A Religião da Humanidade

Auguste Comte através da obra Sistema de Política Positiva (1851-1854)- institui a Religião da Humanidade. Após a elaboração de sua filosofia, Comte concluiu que deveria criar uma nova religião: afinal, para ele, as religiões do passado eram apenas formas provisórias da única e verdadeira religião : a religião positiva. Segundo os positivistas, as religiões não se caracterizam pelo sobrenatural, pelos "deuses", mas sim pela busca da unidade moral humana. Daí a necessidade do surgimento de uma nova Religião que apresenta um novo conceito do Ser Supremo, a Religião da Humanidade. Comte foi profundamente influenciado a tal pela figura de sua amada Clotilde de Vaux.
Segundo os Positivistas, a Teologia e a Metafísica, nunca inspiraram uma religião verdadeiramente racional, cuja instituição estaria reservada ao advento do espírito positivo. Estabelecendo a unidade espiritual através da ciência, a Religião da Humanidade possui como principal objetivo a Regeneração Social e Moral.
Assim como o catolicismo está fundamentado na filosofia escolástica de São Tomás de Aquino , a Religião da Humanidade está fundamentada na filosofia positivista de Auguste Comte. A Religião da Humanidade possui como Ser - Supremo a Humanidade Personificada, tida como Deusa pelos positivistas. Ela representa o conjunto de seres convergente de todas as gerações, passadas, presentes e futuras que contribuíram, que contribuem e que contribuirão para o desenvolvimento e aperfeiçoamento humano.
A Ciência Clássica se constitui no dogma da Religião da Humanidade. Também exitem Templos e capelas onde são celebrados Cultos elaborados à Humanidade (chamada Grão-ser pelos positivistas). A religião positivista caracteriza-se pelo uso de símbolos, sinais, estandartes, vestes litúrgicas, dias de santos (grandes tipos humanos), sacramentos, comemorações cívicas e pelo uso de um calendário próprio, o Calendário Positivista (um calendário lunar composto por 13 meses de 28 dias). O lema da religião positivista é : "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Seu regime é: "Viver às Claras" e "Viver para Outrem".
Auguste Comte foi o criador da palavra "altruísmo" , palavra que segundo o fundador, resume o ideal de sua Nova Religião.

[editar] O Positivismo no Brasil


A Capela Positivista de Porto Alegre,Rio Grande do Sul.
Seria exagero atribuir aos positivistas a Proclamação da República: é no processo de consolidação da mesma que se verifica a influência que exerceram,[1] destacando-se o Coronel Benjamim Constant (que, depois, foi homenageado com o epíteto de "Fundador da República Brasileira").

O lema Ordem e Progresso na bandeira do Brasil é inspirado pelo lema deAuguste Comte do positivismo: L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but ("Amor como princípio e ordem como base; o progresso como meta"). Foi colocado, pois várias das pessoas envolvidas no golpe militar que depôs amonarquia e proclamaram o Brasil República eram seguidores das idéias de Comte.[2]
A conformação atual da bandeira do Brasil é um reflexo dessa influência na política nacional. Na bandeira lê-se a máxima política positivista Ordem e Progresso, surgida a partir da divisa comteana O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim, representando as aspirações a uma sociedade justafraterna e progressista.
Outros positivistas de importância para o Brasil foram Nísia Floresta Augusta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste Comte), Miguel LemosEuclides da Cunha, Luís Pereira Barreto, o marechal Cândido RondonJúlio de CastilhosDemétrio Ribeiro, Carlos Torres GonçalvesIvan Monteiro de Barros LinsRoquette-PintoBarbosa LimaLindolfo CollorDavid Carneiro, David Carneiro Jr., João Pernetta, Luís Hildebrando Horta BarbosaJúlio Caetano Horta BarbosaAlfredo de Morais FilhoHenrique Batista da Silva OliveiraEduardo de Sá e inúmeros outros.
Houve no Brasil dois tipos de positivismo: um positivismo ortodoxo, mais conhecido, ligado à Religião da Humanidade e apoiado pelo discípulo de Comte Pierre Laffitte, e um positivismo heterodoxo, que se aproximava mais dos estudos primeiros de Augusto Comte que criaram a disciplina da Sociologia e apoiado pelo discípulo de Comte Émile Littré.

[editar] Crítica

Comte viveu num tempo intermediário entre o apagar das luzes do iluminismo e a era das grandes generalizações em ciência, um tempo em que o mundo natural parecia acessível à força do intelecto, no culminar do pensamento mecânico da Revolução Industrial. Auguste Comte (1798-1857) morreu dois anos antes de Darwin publicar "A Origem das Espécies", em 1859. Também não viveu o suficiente para ver a publicação de "O Capital" (1867-1894), por seus contemporâneos Karl Marx e Friedrich Engels, embora tivesse visto o "Manifesto Comunista". Esse pequeno contexto histórico ajuda a entender a filosofia de Comte.
Não é justo julgar o passado com os critérios do presente, como não faz sentido orientar presente com critérios que não mais se aplicam às novas circunstâncias, como é o caso do positivismo. Comte, por exemplo, desconfiava da introspecção como meio de se obter o conhecimento, pois a mera observação altera e distorce estes estados, e insistia na objetividade da informação.Esse princípio orientou o trabalho dos psicólogos behavioristas do século vinte. Os positivistas também eram críticos quanto a fenômenos não observáveis. Comte descartou toda pesquisa cosmológica, considerando-a inútil e inacessível. Segundo ele qualquer fenômeno que não pudesse ser observado diretamente seria inacessível à ciência. Essas duas posições positivistas foram colocadas em cheque com avanços na química e na física, especialmente com Boltzmann (1844-1906) e Max Planck (1858-1947), ambos inteiramente convencidos da existência de partículas não observáveis e confiando na intuição como meio de gerar conhecimento, num processo similar ao que foi chamado mais tarde de "abdução" por Charles Sanders Peirce.
A Ciência moderna acabou com as esperanças de uma realidade universal harmoniosa e ordenada, que pudesse ser traçada a régua e compasso. O determinismo científico ruiu: as leis naturais são meras abstrações e idealizações do intelecto, carecendo de qualquer existência objetiva. O gato de Schrödinger comeu, Heisenberg ficou incerto e Kurt Gödel mostrou que sempre ficava alguma coisa de fora. O mundo é, confuso, caótico, dominado pelo princípio da incerteza. É assim na física, é assim na sociedade. O que torna Comte e o Positivismo ultrapassados no contexto atual é sua ênfase no determinismo , na hierarquia e na obediência, sua crença no governo da elite intelectual e sua insistência em desprezar a teologia e a metafísica.

[editar] Ver também

Referências

[editar] Ligações externas

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